É
mais do que notório a discrepância do nível de serviço prestado, no que diz
respeito a acessibilidade das edificações, no Brasil, quando comparados a
edificações de outros países com um grau de desenvolvimento maior que o nosso,
e com uma cultura, educação e respeito pelos indivíduos mais avançados.
Culturalmente,
o Brasil sempre esteve envolto em um modelo de construção e arquitetura baseado
em processos antigos, vindo lá dos europeus na época da colonização, e apesar
de parecer que não, com pouca alteração desde então. Se uma análise for feita
com um olhar mais cauteloso, veremos que nosso cimento de hoje, é o barro de antigamente,
os tijolos, são as pedras, e assim por diante. O mesmo pode ser observado em
relação aos projetos dos edifícios. Em um passado não muito distante, em
qualquer lugar do globo, as questões de acessibilidade não eram relevantes nos
projetos das construções. Isso acontecia porque historicamente, pessoas com
mobilidade reduzida eram vistos com olhos de segregação, por serem considerados
incapacitados e sem valor econômico para o mercado. Obviamente, esta visão já
deixou de ser considerada correta, e vemos este público específico atuando
fortemente no mercado, tanto como força de trabalho, como com potencial de
consumo. Fica então a pergunta: Porque no Brasil, os arquitetos, projetistas e
engenheiros, ainda não consideram as questões de acessibilidade em seus
projetos?
Bem,
a resposta à pergunta acima pode ser dividida em duas partes. O que ocorre na
verdade é que por vezes, os projetos contemplam as questões de acessibilidade,
mas por uma questão de visão errada sobre custos, estes dispositivos não são
implantados. Um outro fator importante é que existe uma inércia a ser vencida
para os projetos atuais, pois é necessário gerar uma mudança de comportamento
nos responsáveis pelos projetos, visto que eles estão acostumados a projetar
sem considerar as condições de mobilidade reduzida, e por conta disso, os mesmo
não tem know-how de como projetar considerando essas questões, ou simplesmente
nem lembram de considerá-las. Voltando um pouco na questão do custo, é possível
observar que impera uma visão errada sobre o valor dos equipamentos de
acessibilidade. Na verdade, não só os equipamentos de acessibilidade, mas sobre
todos os equipamentos de elevação, como elevadores residenciais, plataformas de
carga, etc, mas isto é assunto para outro artigo. O fato é que a visão errada
sobre os custos dos equipamentos se dá porque no passado, não existia opção
para aquisição e os equipamentos de fato custavam muito mais caro do que hoje.
Portanto, na realidade atual, os equipamentos de acessibilidade são acessíveis
a quase todas as pessoas.
Enquanto
os países considerados de primeiro mundo evoluíram suas técnicas construtivas e
a aplicação de materiais mais modernos, países como o Brasil não evoluíram no
mesmo ritmo. Apesar de haver uma obrigação de se oferecer acessibilidade nas
edificações nos países desenvolvidos, segundo as legislações destes países, a
questão do alto respeito ao indivíduo, provinda da melhor educação da população,
garantiria por si só que os projetos contemplassem as questões de
acessibilidade mesmo sem uma lei impositiva para tal. No Brasil, a legislação
até pouco tempo atrás não colocava todos os cidadãos em pé de igualdade perante
a sociedade como um todo, ignorando portanto os assuntos relacionados a
mobilidade urbana. Temos portanto três fatores, legislação, educação, e
tecnologia que explicam porque não temos edificações 100% acessíveis até hoje.
Conforme
foi dito anteriormente, no Brasil não havia uma legislação que considerasse as
questões de acessibilidade. Repare que estávamos falando no passado, pois hoje,
o Brasil já contempla uma legislação que obriga certos tipos de edificações a
fornecer acessibilidade completa. Este é a Lei 10.098 de 2001, a chamada Lei da
Acessibilidade. Estamos portanto falando de uma grande virada no rumo dos
projetos, sendo o governo, um grande agente de mudança social, e cultural. Com
o advento desta lei, se iniciou um grande movimento de adaptação das
edificações para prover acesso digno a todos os cidadãos, e os novos projetos
de construção, já não conseguem mais alvará de instalação se não incorporar os
dispositivos de acessibilidade.
Sobrou
então as questões de cultura e avanço tecnológico dos materiais para podermos
nos igualar aos países desenvolvidos, mas de qualquer forma, a realidade atual
nos mostra que há um caminho muito mais fácil de se trilhar do que parece, e
tudo começa na qualidade da informação que está sendo espalhada pelo mercado.
Conforme avançarmos nossa tecnologia construtiva de materiais, conseguiremos
baratear os custos de fabricação e instalação destes equipamentos, e a melhora
da cultura e educação da população, fará com que exijamos projetos acessíveis,
e ainda, que as informações espalhadas ao mercado sejam corretas e mais
precisas.
Por Arthur Barretto
CEO na RBA Elevadores - São Paulo
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